| O segredo do tempo é consumi-lo sem percebê-lo. É fingir-se infinito para não o vermos passar É fazer-se contar em anos em vez de momentos Relógio, despertador, cronômetro, calendário Tudo engodo para imaginarmos prendê-lo, controlá-lo Ampulheta, único instrumento sincero do tempo Regressivamente, nos impõe a gravidade De haver realmente um último grão Riscando na areia a nossa fragilidade Mas o tempo é imparcial Não distingue rico de pobre Preto de branco, homem de mulher Devora-se sem escolhas Matar o tempo é matar-se sem sentido Perdê-lo é viver em vão Faz-se devagar nos maus momentos Depressa quando o queremos Ponteiro invisível da vida Peça necessária do fim A sua fome é insaciável A sua vontade é determinante A sua procura é unanime Se esconde nas sombras que se movem Nos objetos que não mais servem Nas pessoas que nunca mais vimos Na podridão das frutas que não foram colhidas Nas lembranças já esquecidas Revela-se nas fotos que se desbotam Nas cartas que amarelam Nas crianças que crescem Nas rugas que aparecem Deixa-nos a esperança de Pandora Nas ações dos que virão No nascimento dos rebentos |
Um comentário:
Refletindo: O tempo é abstrato ou é concreto?
Um abraço, Cris
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